Fotografia Autoral

Este post é na verdade uma reorganização de vários posts anteriores sobre este tema num único texto. Os posts são essencialmente os mesmos, mas foram re-escritos para que o texto flua de forma mais clara e objetivo no novo formato.

Fotografia, Ferramenta Essencial para Vida

A origem da fotografia remonta as pinturas rupestres. Elas contavam histórias através de imagens. Essa forma de comunicação evoluiu e atingiu o ápice em civilizações diversas como as asiáticas, mediterrâneas e sul-americanas.

Nesse momento, deu um passo adiante e começou uma transformação através dos hieróglifos. Foi quando houve uma ruptura e a criação de uma nova forma de comunicação: a escrita.

Mas o processo de contar histórias através de imagens continuou seu caminho, evoluiu e assumiu novas formas, como a arte. E no século XIX, assim como todas as outras coisas, deu passos largos em direção ao futuro: nasceu a fotografia e o cinema.

A pintura, a escrita, a fotografia, o cinema, e todas as variações dessas atividades têm a mesma origem, e apesar de terem se desenvolvido em direções diferentes, todas têm a mesma essência: são meios de comunicação.

Uma das primeiras coisas que aprendemos sobre comunicação é que existem três elementos básicos: o emissor, a mensagem e o receptor.

Na fotografia isso foi traduzido por Roland Barthes (1915-1980), um importante linguista, semiólogo, crítico literário e filósofo francês, da seguinte forma:

Na fotografia existe o Operator, que é o fotógrafo, o Spectator, o observador da fotografia, e o Spectrum, o assunto fotografado. E sobre a fotografia em si, existem dois aspectos, o Studium que é a interpretação da imagem e o Punctum, que nem sempre está presente, mas quando está, é o que torna a fotografia marcante.

Na última década, com o avanço da tecnologia e principalmente a popularização dos telefones celulares com câmera, houve uma explosão na produção de imagens. Em 2012 foi feito um estudo por importantes meios de comunicação, e chegaram na conclusão que a cada dois minutos era produzido uma quantidade maior de imagens do que todas as produzidas no século XIX; e no último ano (2011) foram quase 400 bilhões de fotografias feitas.

Desde os primeiros anos escolares nós estudamos a escrita, até então o principal meio de comunicação empregado pela humanidade. Temos aulas de gramática, interpretação de textos e redação. A escrita ainda é o principal meio de comunicação, mas é inegável que a fotografia cresceu, e muito, em importância.

Então, porque não estudarmos a fotografia?

Ferramenta - Associação Brasileira de Arte Rupestre - Divulgação

Fotografia Autoral

Existem vários estilos de fotografia; retratos, paisagem, comercial, eventos, moda, etc. E existe também a fotografia autoral. A fotografia autoral pode ser qualquer um dos tipos de fotografia existentes, mas ao mesmo tempo, não é nenhum deles. O que torna a fotografia autoral diferente então?

A diferença está na justificativa, na origem da foto. Um fotojornalista, quando tira uma foto, seu objetivo é registrar um momento histórico; um fotógrafo de moda precisa mostrar com suas fotos, as roupas, acessórios, ou o que quer que seja que ele está trabalhando; um fotógrafo de viagens precisa ilustrar suas histórias sobre os lugares que ele visita; um fotógrafo de natureza quer mostrar ao mundo todo a natureza que existe no mundo; e assim é com todos os tipos de fotografia, cada um com um objetivo específico em mente. O foco está no assunto a ser fotografado, porque o assunto é o ponto chave.

A fotografia autoral funciona de forma diferente porque nesse caso, o assunto não é o foco, apenas um elemento, uma parte do todo. O foco na fotografia autoral são as motivações pessoais do fotógrafo, o que ele quer transmitir com aquela foto. São as justificativas do fotógrafo que validam a fotografia autoral.

The Photographers Vision - Michael Freeman - P18 - Bamiyan, 2003, Seeamus Murphy

 

Bamiyan, 2003, Seeamus Murphy

O que é Fotografia Fineart?

Na última década tem se popularizado uma tal de fotografia ‘fine art’. O que seria isso? Em poucas palavras, fotografia fine art é a fotografia com um valor artístico agregado, independentemente do estilo.

E o que seria esse ‘valor artístico’? Bom, não me sinto qualificado para definir o que tem e o que não tem valor artístico, mas acredito que o conceito pode ser facilmente determinado. É quando o fotógrafo imprime na imagem final um pouco – ou muito – de sua visão pessoal, ou seja, independentemente do estilo, a fotografia também pode ser autoral.

Toda fotografia autoral é fine art então? Claro que não! Isso seria o mesmo que dizer que toda fotografia de retrato é tão boa quanto um Avedon, ou de paisagem um Ansel Adams, ou … vcs já entenderam neh.

Mas então a fotografia autoral que não é fine art não tem valor? Depende; valor artístico, comercial? Provavelmente não. Mas e daí? Isso importa? De novo, depende. O autor tinha intenção de produzir fotografia fine art e entrar na lista das 10 fotografias mais caras da história? Tinha intenção de entrar para o seleto grupo de fotógrafos que tem suas imagens comercializadas em galerias de arte da moda? Queria vender suas imagens em lojas online de fotografia ‘fine art com edição limitada’? Ou simplesmente vendê-las em um banco de imagens? Ou ainda, imprimir, emoldurar e vender em feiras de artesanato em pontos turísticos de sua cidade? Ou então, vejam só, apenas imprimir, emoldurar e pendurar na parede de sua casa ou escritório?

Voltando a pergunta inicial, como é definido o valor artístico e por consequência, o valor comercial? Este é definido por especialistas do mercado de artes, coisa que não sou, e por isso não me estenderei neste ponto. Mas a pergunta que realmente importa na minha opinião, é a seguinte:

Qual o valor do seu trabalho para você, o autor?

Esta sim é a pergunta que todo autor deveria fazer, porque afinal de contas, trabalho autoral, como já determinamos, é a visão pessoal do autor, e não a visão pessoal do especialista ou do comprador de fine art.

Então, se você quer praticar fotografia autoral, esqueça esse negócio de ‘fine art’, e dedique-se a encontrar dentro de você mesmo as razões pelas quais você quer praticar fotografia e use este conhecimento como base da sua fotografia autoral.

Amplie seus horizontes, estude fotografia, não apenas aquelas técnicas infalíveis de HDR, mas também os grandes nomes da fotografia, como os já citados Richard Avedon e Ansel Adams, e muitos outros. Procure os mestres do estilo que você mais se identifica, tanto do passado quanto do futuro. Do futuro? Sim, pesquise os nomes mais badalados do momento e conheça o trabalho deles. Pesquise também os nomes que não são famosos; é provável que você vá encontrar alguém que impressione você. Afinal de contas Van Gogh não era famoso quando era jovem. Falando em Van Gogh, a pintura tem muito a ensinar a fotografia; amplie seus horizontes.

Não se intimide, siga seus instintos, crie sua fotografia autoral. Uma coisa eu garanto, você irá aprender muito sobre você mesmo, e isso certamente irá repercutir positivamente em sua vida.

London Eye II

London Eye II – Carlos Alexandre Pereira

Ok, mas e quando a fotografia comercial vira “fine art”?

Se a fotografia fine art é um trabalho autoral, por que alguns fotojornalistas vendem seus trabalhos como fotografia fine art? E museus que já possuem fotos de moda em seus acervos?

Não tem problema, porque como eu disse antes, o assunto fotografado não é o foco, não é importante. O que importa são as intenções do fotógrafo, seu estilo, seu trabalho. É o fotógrafo que justifica a fotografia ser fine art.

Então é isso, se o fotógrafo diz que “esta fotografia é fine art” então aquela fotografia é fine art? Essencialmente sim, mas como em qualquer outro tipo de fotografia, existe todo tipo de fotografia fine art. Não é porque a fotografia é fine art que ela é automaticamente “Fine” (boa, excelente).

Existe também outros aspectos a serem considerados, como por exemplo, a longevidade da impressão que pode ser comparada ao das belas artes tradicionais. Não dá para ser uma fotografia fine art se a impressão vai se desintegrar ou desbotar em 5 ou 10 anos. Fotografia fine art precisa ser durável, assim como as pinturas renascentistas, por exemplo. Aliás a tradução adequada de “Fine Arts” em português seria “Belas Artes”.

Foi o invento – relativamente – recente de técnicas de impressão usando tintas baseadas em pigmentos minerais em papéis a base de algodão, que permitem a impressão de fotografias que durem pelo menos uma centena de anos, criando assim obras de arte duradouras. E é por isso que todo mundo tem estado tão entusiasmado a respeito da tal fotografia fine art. Esta técnica de impressão permitiu a fotografia fine art alcançar o mesmo patamar das belas artes, pelo menos no aspecto físico. O aspecto artístico já vem sendo trabalhado desde a invenção da fotografia, duzentos anos atrás.

The Photographers Vision - Michael Freeman - P35 - Female lower half in seamed stockings, Guy Bourdin

Female lower half in seamed stockings, Guy Bourdin

Formas de Praticar a Fotografia Autoral

Bom, recapitulando, a fotografia autoral pode ser de qualquer estilo e praticada por qualquer um. E dependendo da qualidade do trabalho realizado pode vir a ser considerada ‘fine art’ por críticos e especialistas. Mas mesmo que não tenha valor comercial, não deixa de ser fotografia autoral.

Já determinamos também que nem todos têm o dom ou a capacidade de criar fotografias ‘fine art’; mas nem por isso precisamos nos conformar em fazer sempre um trabalho, na melhor das hipóteses, mediano ou, em alguns casos, medíocre. E é por isso que é importante estudar e praticar sempre a fotografia, para aprimorarmos nosso trabalho. 80% esforço e 20% inspiração!

Uma coisa que minha experiência profissional me ensinou é que todo processo se torna mais eficiente e com mais chances de sucesso se possuir objetivos claros e atingíveis. Por isso vou dar a vocês uma dica: transformem sua fotografia em um projeto.

A fotografia autoral pode ser praticada de três formas diferentes: descompromissada, deliberada ou planejada. Pode ser que hajam outras formas, afinal os limites da criatividade estão sempre em expansão. E pode ser também que as formas que vou descrever sejam conhecidas por outros nomes, afinal, acabei de inventar esses.

A fotografia autoral descompromissada é basicamente reativa. Nela, o fotógrafo ‘reage’ as circunstâncias capturando as imagens conforme as oportunidades se apresentam. É a síntese da fotografia de rua de Cartier-Bresson onde o ‘momento decisivo’ (Punctum) determina o momento do click. Esta é a forma mais comum pela qual a fotografia é praticada, largamente difundida a partir do momento em que as câmeras fotográficas se tornaram portáteis e ágeis o suficiente para serem carregadas pelas ruas sempre prontas para serem usadas em uma fração de segundo. Praticamente todos nós começamos no mundo da fotografia dessa forma e muitos nunca praticam outro tipo de fotografia. E tudo bem, afinal de contas, o já citado Cartier-Bresson, exponencial máximo desta forma de prática fotográfica, é um dos maiores fotógrafos de todos os tempos.

Henri Cartier-Bresson

Henri Cartier-Bresson

Mas na minha opinião, esta forma de praticar fotografia é um pouco comodista e não favorece o desenvolvimento pessoal. Sim; com estudo e prática constante você irá se desenvolver, mas de forma mais lenta, porque carece de um objetivo claro. Veja bem, é bom frisar que esta é apenas a minha opinião.

Minha sugestão para acelerar o seu desenvolvimento é a criação de séries fotográficas. Dessa forma você estará definido um objetivo para sua fotografia e ela deixará de ser descompromissada (reativa) para ser deliberada. Você irá sair à rua da mesma forma, mas ao invés de apenas reagir as circunstâncias, irá procurar ativamente pelo assunto que deseja fotografar. A grande vantagem é que agora você sabe o resultado que deseja alcançar e vai se aprimorar conforme a necessidade.

A fotografia deliberada se assemelha bastante com as primeiras fotografias da história. Naquela época tirar uma fotografia não era tarefa fácil, o equipamento era grande, pesado e de uso complexo. Então a escolha do que fotografar era uma ação deliberada, ou seja, o momento decisivo acontecia na cabeça do fotógrafo ao escolher a imagem a ser capturada e não no impulso do momento.

Mas o que, exatamente, são séries fotográficas?

Séries fotográficas são um conjunto de fotografias onde existe um ou mais elementos comuns dando sentido a formação deste conjunto de fotografias. Pode ser o assunto, a composição, um aspecto estético ou técnico, ou até mesmo o equipamento utilizado na captura das imagens. Em uma série fotográfica, as fotografias podem ser adicionadas ou retiradas livremente, sem prejuízo para o entendimento do contexto da série.

É verdade que muitas séries fotográficas nascem da análise posterior do próprio portfólio, onde o fotógrafo identificou um padrão entre determinadas imagens que a princípio foram capturadas ao acaso. Mas uma coisa não impossibilita a outra, criatividade é isso mesmo, descobrir coisas novas!

Gray Rabbit Face

Gray Rabbit Face – Carlos Alexandre Pereira

Fotografia Autoral Planejada

A terceiro e última forma de se praticar a fotografia autoral é a forma planejada, que pode ser subdividida em duas outras formas: Projeto Fotográfico e Narrativa Fotográfica.

Recapitulando; a fotografia autoral pode ser praticada de três formas diferentes: descompromissada, deliberada ou planejada. A forma descompromissada é exatamente isso que o nome quer dizer, sem compromisso com objetivos ou ideias, apenas a captura de imagens aleatórias que surgem como oportunidades no caminho do fotógrafo. É a fotografia de rua na sua forma mais simples. Na forma deliberada, o fotógrafo sai em busca de imagens que se encaixam em uma ideia pré-concebida, ele tem um objetivo a cumprir. É a essência das séries fotográficas.

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Mas a fotografia planejada, não seria também deliberada? Sim, seria; mas de uma forma um pouco mais sofisticada. Como disse anteriormente, as séries fotográficas existem em virtude de um elo comum entre as fotografias do conjunto. Em uma série fotográfica, as imagens podem ser adicionadas ou retiradas livremente, sem prejuízo para o entendimento do contexto da série.

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Já no projeto fotográfico e na narrativa fotográfica, que são as duas formas que eu entendo como sendo planejadas, existe muito mais do que um elo comum. As imagens não são apenas similares em um determinado aspecto; nem mesmo precisam ser similares. Elas fazem parte daquele conjunto porque cada imagem contribui individualmente para o entendimento pleno do contexto do projeto ou da história sendo contada. Esse aspecto é ainda mais crítico na narrativa fotográfica, onde a falta de uma imagem pode causar uma interpretação totalmente errada da mensagem sendo transmitida. Por essa razão, cada imagem precisa ser cuidadosamente planejada e executada, afim de que a mensagem seja bem clara para o público alvo.

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Mas qual a diferença entre projeto fotográfico e narrativa fotográfica?

Um projeto fotográfico transmite uma mensagem através do conjunto das imagens que formam o projeto; não necessariamente uma história, mas uma ideia, um conceito. Já a narrativa fotográfica conta uma história, de forma linear ou não, mas cada imagem conta um pedacinho da história.

Entendeu? Não? Deixa eu exemplificar.

A documentação fotográfica planejada e detalhada de uma catedral, por exemplo, é um exemplo de um projeto fotográfico. O fotógrafo se propôs a retratar a catedral para que todos possam conhecê-la sem ter que visitá-la pessoalmente.

Mas se esta mesma catedral passar por um processo de restauração, e este processo for documentado do início ao fim através de fotografias, teríamos então um ótimo exemplo de narrativa fotográfica.

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Ficou claro agora a diferença? É bastante sútil e às vezes inexistente, mas de modo geral; o projeto fotográfico transmite uma mensagem através de um conjunto de imagens; e a narrativa fotográfica conta uma história através de cada imagem individualmente. No caso do primeiro exemplo, a mensagem é a própria catedral; no caso do segundo exemplo, a história é o processo de restauração da catedral.

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As imagens que ilustram este artigo são um exemplo de narrativa fotográfica. Com apenas 6 imagens foi possível contar a história do dia em que um menino teve a chance de conhecer de perto um avião, algo muito distante da realidade dele. E para contar essa história não foi necessário títulos ou legendas, bastaram as imagens apresentadas na ordem correta.

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Profissional ou Amador?

A fotografia pode ser praticada profissionalmente ou de forma amadora. A diferença entre uma forma e outra, não é a qualidade do trabalho, ou a competência do fotógrafo, mas se este pratica fotografia como um trabalho remunerado ou apenas para satisfação pessoal. Um fotógrafo pode ser apenas amador e mesmo assim ter um conhecimento profundo da técnica e arte fotográfica. Por outro lado, um fotógrafo profissional pode ser muito talentoso ou um incompetente; e ainda sim pode ter ou não sucesso profissionalmente, pois neste caso o sucesso depende muito das suas habilidades comerciais. E nada impede um fotógrafo profissional de praticar fotografia de forma amadora, assim como um fotógrafo amador pode eventualmente ganhar algum dinheiro com sua fotografia.

Chicago Capturado da Tela 1

Confuso, não? Sim, bastante.

Os termos “profissional” e “amador” são apenas rótulos; o que realmente importa é o trabalho que você realiza e os resultados que você pretende obter com a sua fotografia.

Se você quer ser um profissional da fotografia e obter dela o sustento necessário para se manter, você deve estudar como funciona esse mercado, o que é exigido destes profissionais, e aprender as habilidades necessárias para ter sucesso nesta profissão. Apenas uma dica; para ser um profissional de sucesso na fotografia, a técnica fotográfica é apenas uma dentre as várias habilidades necessárias, como por exemplo, saber lidar com as pessoas e ser um bom negociador. Ao se tornar um profissional da fotografia você assume uma responsabilidade com o seu cliente em troca da remuneração pelo seu trabalho. Nesse caso, o seu trabalho fotográfico quase sempre é determinado pelas necessidades do seu cliente, salvo raras exceções.

Chicago Capturado da Tela 4

Por outro lado, se você já garante o seu sustento através de uma atividade qualquer e a fotografia é apenas hobby então sua única responsabilidade é com você mesmo. É você que irá determinar o que você quer aprender ou realizar com a sua fotografia. Isso é ser amador. Se alguém gostar das fotografias que você produz a ponto de pagar para ter uma impressa e emoldurada na parede, ótimo! Ainda assim, você só deixará de ser amador quando depender desta atividade para se sustentar.

Já que estou falando sobre o que é ser “profissional” ou “amador”, não posso deixar de comentar sobre o uso destes termos em relação aos equipamentos fotográficos. Uma câmera fotográfica é uma ferramenta, e como qualquer outra ferramenta, tem uma utilidade específica que varia conforme o modelo. Usar uma câmera moderna e sofisticada não torna nenhum fotógrafo, seja ele profissional ou amador, melhor do que ele seria com uma câmera mais simples. As fotografias podem até ficar melhores, mas o mérito será todo da câmera, não do fotógrafo. Assim como dizer que a câmera não tem relevância é igualmente errado, pois realizar um trabalho com o equipamento inadequado pode levar a resultados desastrosos. O bom profissional é aquele que sabe escolher a ferramenta certa para cada trabalho. Existe uma série de questões técnicas que precisam ser levadas em consideração ao escolher a câmera adequada para o trabalho; o fotógrafo que ignorar estas questões achando que sua capacidade técnica e talento irão superar qualquer dificuldade corre o risco de se ver em uma situação para a qual não tem solução.

Chicago Capturado da Tela 5

As três imagens que ilustram este post fazem parte de um conjunto de cinco fotografias tiradas por mim em 1996 em uma das viagens que fiz a trabalho para Chicago, sede da Motorola, empresa onde trabalhava nesta época. Estas fotografias foram tiradas com uma câmera de filme Samsung bem simples. Na época meus conhecimentos técnicos sobre fotografia eram bastante limitados, mas ainda sim consegui produzir algumas imagens com boa qualidade e composições que me agradam muito. Tanto que hj em dia, 20 anos depois, profissional estabelecido no meio fotográfico, voltei a estas imagens e, com uma pós-produção cuidadosa, foi possível montar um conjunto de cinco imagens para serem disponibilizadas em uma edição limitada especial, com valores compatíveis ao mercado de fotografia autoral para decoração.

Um Conselho Para Helena

Helena é uma garotinha que acompanhou o pai em um passeio fotográfico pelo centro de Campinas em uma manhã de domingo…levando sua própria câmera e tirando muitas fotos.

Este ano começo a dar aulas de fotografia em uma escola tradicional da região, para crianças entre 11 e 17 anos. Ver o interesse e motivação da Helena de perto, me fez pensar nos meus novos e futuros “aluninhos”.

O que motiva eles a dedicar parte do seu tempo para aprender fotografia? Como instigar neles um interesse ainda maior pela fotografia?

Foi pensando nestas questões que escrevi este conselho.

A fotografia pode ser descompromissada e divertida, como um selfie com os amigos ou um snapshot de um sorvete. Mas quando você mostra as fotografias que tirou na sua última viagem para os seus amigos, e não consegue transmitir o quão incrível foi a experiência, e termina falando “você precisava estar lá para ver”, você percebe que a fotografia também pode ser frustrante.

A boa notícia, é que você não precisa comprar um equipamento mais caro e sofisticado. Depende apenas de você para tornar suas fotografias tão incríveis quanto a experiência que você vivenciou. Basta querer.

A outra boa notícia, é que como tudo na vida, este é um processo de aprendizado e prática. Isso quer dizer, que todas as suas experiências de vida vão se somar e contribuir para o seu crescimento como fotógrafa(o) e como pessoa.

A fotografia tem muitas regras. Um bom fotógrafo estuda, pratica e domina todas estas regras. Um fotógrafo excelente sabe a hora certa de quebrar cada uma destas regras. Os fotógrafos geniais já nascem sabendo. O problema é que nunca sabemos se somos geniais ou apenas egocêntricos.

Para ter certeza, comece tentando ser uma boa fotógrafa, estudando e praticando as regras. Quando você dominar esta fase, experimente quebrar cada uma delas. Pesquise e conheça o trabalho de outros fotógrafos, conhecidos e desconhecidos. Assista filmes, leia livros, vá ao teatro. Fotografia é feita de luz, procure a luz a todo momento. Tire muitas fotos! Imprima suas fotos, mostre suas fotos! Viva intensamente suas experiências, e aprenda com elas.

Se você fizer tudo isso, uma coisa eu garanto, suas fotos serão muito boas. E mais, pode ser que um dia, alguém vai olhar as suas fotografias e falar:

“Esta fotógrafa é genial!”

 

Carlos Alexandre Pereira

Fotógrafo de arquitetura com um forte trabalho autoral. Trabalha com filme fotográfico e digital, principalmente P&B. Educador, autor e editor de artigos sobre fotografia e viagens. Fotografias autorais disponíveis em impressão com qualidade fine art e edições limitadas.

Landscape and travel photographer. Online/digital writer and publisher. Authorial photography educator. Fine art photography printer. Former Project Manager Professional. http://www.calexandrep.com

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