Fotografia P&B – Parte I

Existem fotógrafos que evitam conhecer o trabalho de outros fotógrafos para não deixarem influenciar. Uma tremenda bobagem. Nós somos influenciados o tempo todo; pela fotografia, televisão, cinema, outras formas de arte e pela vida como um todo. O grande desafio não é ‘não se deixar influenciar’, mas ‘absorver apenas o que for construtivo para o nosso trabalho, para a nossa vida’.

É tendo esse pensamento em mente que vou começar este artigo citando grandes nomes da fotografia P&B. São todos fotógrafos antigos; vários desta lista começaram sua carreira numa época em que a fotografia em cores ainda não era viável; outros, mesmo tendo a opção da escolha entre P&B e cores, optaram pelo P&B e assim construíram o seu trabalho; e tem ainda aqueles que, apesar de não ter uma preferência clara, têm a habilidade necessária para criar grandes imagens em P&B, assim como o fazem à cores.

Não vou me alongar na biografia de cada um, pois este não é o tema deste artigo, mas sugiro enfaticamente que quem ainda não conhece intimamente o trabalho destes senhores, que o faça sem demora. São referências da mais alta qualidade. A ordem em que são apresentados não tem nenhum significado especial; estão mais ou menos ordenados por época de atuação e separados em dois grupos, estrangeiros e brasileiros. Também não considero estes os oito melhores fotógrafos de todos os tempos, assim como eles existem vários outros que poderiam fazer parte desta lista.

As paisagens monocromáticas de Ansel Adams deram origem ao movimento que culminou com a criação dos primeiros parques nacionais americanos. Paisagens em P&B tão fortes, que uniram os EUA em prol da preservação de seus recursos naturais.

Ansel Adams - Winter Sunrise - Sierra Nevada from Lone Pine - New Mexico - 1937

Winter Sunrise, Ansel Adams

Edward Weston fotografou ao lado de Ansel Adams muitas paisagens desérticas entre outras, mas diferentemente de Adams, Weston se dedicou a vários outros estilos de fotografia. Fotografia de nu, natureza morta e abstrata, são alguns dos mais recorrentes.

Edward Weston - Nude - New Mexico - 1937

Nude, Edward Weston

Fan Ho foi um explorador urbano em busca da luz, nasceu em Xangai mas cresceu em Hong Kong, cenário de algumas das mais belas fotografias onde a luz é o personagem principal.

Fan Ho - Hong Kong

Hong Kong, Fan Ho

Richard Avedon foi um fotógrafo de moda e retratos; dono de um estilo marcante que o distinguiu em um tipo de fotografia, historicamente, sempre saturado. Suas fotografias são elegantes, contundentes, expressivas.

Richard Avedon - Dovima with elephants, evening dress by Dior - Paris - 1955

Dovima with Elephants, Richard Avedon

Thomas Farkas, nascido na Hungria e naturalizado brasileiro, foi um dos pioneiros da fotografia moderna brasileira. Seu trabalho independente na documentação da construção e inauguração de Brasília, é um dos mais importantes registros visuais deste acontecimento histórico para o Brasil.

Thomas Farkas - Brasília - 1960

Brasília, Thomas Farkas

Cristiano Mascaro é um dos grandes mestres da fotografia moderna brasileira; arquiteto de formação, é bastante conhecido pelo seu trabalho de documentação do patrimônio histórico e das transformações sofridas pelas cidades em desenvolvimento, em especial São Paulo, cidade onde morou a maior parte de sua vida.

Cristiano Mascaro - Detalhe do COPAM - Cidade de São Paulo

Detalhe do COPAM, Cristiano Mascaro

Sebastião Salgado é provavelmente o fotógrafo brasileiro mais conhecido da atualidade, no Brasil e no mundo. Seu último projeto – Gênesis – elevou o seu trabalho à um novo patamar, além das fronteiras da fotografia. Mas não é de agora que ele vem criando imagens incríveis; desde o princípio de sua carreira como fotógrafo, quando saiu do exílio em Paris no tempo da ditadura, para fotografar os povos latinos americanos como forma de se reaproximar de seu povo, o brasileiro, que Sebastião Salgado vem construindo um portfólio de imagens impactantes, comoventes.

Sebastião Salgado - Serra Pelada - Workers - 1986

Serra Pelada, Sebastião Salgado

E finalmente, Araquém Alcântara. Provavelmente o maior fotógrafo brasileiro de natureza, com quase 50 livros lançados em 50 anos de carreira. Sim, é verdade que a maior parte do seu acervo é em cores, mas é inegável a sua habilidade para transformar imagens coloridas e vibrantes de uma natureza selvagem em imagens P&B, fortes e impressionantes. Para não falar na sua capacidade de capturar a essência das pessoas que vivem no interior do país e expressivos retratos monocromáticos.

Araquém Alcântara - Ilha Caviana - Pará - Brasil

Ilha Caviana, Araquém Alcântara

O Estilo P&B

A fotografia nasceu e amadureceu monocromática, predominantemente P&B. Por essa razão, até muitos anos depois da popularização da fotografia em cores, somente as fotografias P&B eram consideradas ‘legítimas’. Ainda hoje a fotografia P&B mantém uma aura artística e/ou documental.

Mas isso não quer dizer que a fotografia P&B seja praticada apenas por uns poucos fotógrafos consagrados. Ela é bastante comum em todos os estilos de fotografia, e praticada por fotógrafos de níveis variados de habilidade e experiência.

Chega a ser tão usual; que apesar de estarmos plenamente acostumados com a fotografia colorida, mais próxima da forma como enxergamos naturalmente o mundo e a vida; nosso cérebro ainda está treinado para ‘interpretar’ a imagem P&B.

Uma fotografia P&B nem sempre é desprovida de cor; muitas vezes ela está implícita. Veja o caso da fotografia “Milhos” de autoria da fotógrafa Marcela Zullo Pereira. A identificação do objeto fotografado é imediata; mesmo que o nome da imagem seja desconhecido; são milhos. E milhos são amarelos. Assim que o observador identifica o objeto como sendo um milho, automaticamente atribui a cor amarela à ele. Nosso cérebro trabalha com associações, então logo pensamos: milho = amarelo.

Marcela Zullo Pereira - Milho - PB

Milhos em P&B, Marcela Zullo Pereira

Claro que o exemplo que dei é uma generalização; o importante é entender que este processo de associação visual ocorre; mesmo que ele seja bastante pessoal, com resultados variados de acordo com as referências de cada um. Esta é uma das várias formas como o nosso cérebro interpreta a imagem P&B.

Logo na primeira frase eu citei ‘monocromática’ e ‘P&B’; muitos pensam que os dois termos se referem a mesma coisa, mas não é bem assim, aliás, as diferenças são bastante óbvias quando prestamos atenção ao significado de cada termo. Podemos incluir ainda mais um termo nesta discussão: ‘tons de cinza’.

  • Fotografia Monocromática: Fotografia P&B é monocromática, mas nem toda fotografia monocromática é P&B. Para ser monocromático basta usar apenas tons diversos de uma única cor. Sépia e cianotipia são exemplos de imagens monocromáticas vermelhas e azuis respectivamente.
  • Fotografia P&B: Imagem composta exclusivamente de pretos e brancos; quase sempre mostram apenas silhuetas de determinadas formas, pois com apenas duas cores fica muito difícil – se não impossível – de criar texturas, um elemento muito importante na definição das formas.
  • Fotografia em Tons de Cinza: Imagens formadas por diversos tons de cinza, que vão do branco puro (intensidade total de luz) ao preto absoluto (ausência completa de luz). A atual tecnologia de fotografia digital costuma trabalhar com 256 tons de cinza (incluindo branco e preto). Estes 256 tons são obtidos com a combinação de 8 bits no processamento digital da imagem.

As razões para se fotografar, ou transformar uma fotografia em P&B, são diversas, mas acredito que todas elas podem ser encaixadas em dois grupos básicos: a estética do P&B, e a simplificação do processo ao eliminar as cores. Mas essa discussão sobe as motivações de cada um é irrelevante para o resultado final.

Todas as imagens funcionam em P&B? Poderíamos dizer que não, ou que determinada imagem ficaria muito melhor colorida; mas a história sempre prova que não há verdades absolutas. Aquela imagem, que era consenso ficar muito melhor em cores, pode muito bem vir a ser convertida para P&B por alguém com um talento excepcional em edição de imagens, ou simplesmente alguém que viu uma possibilidade que ainda não havia sido testada, e produzir uma imagem em P&B fantástica.

O ponto é, não existe certo ou errado; não é uma ciência exata. É uma questão de gosto e sensibilidade pessoal; tudo muito subjetivo. O que existe é uma série de conceitos, que ao longo da história da fotografia, vêm se provando capazes de produzir resultados satisfatórios quando levados em consideração.

Não perca tempo e vá direto para parte II deste artigo clicando aqui!

Para aprender mais sobre fotografia P&B, consultem meu workshop de Fotografia P&B, onde falo sobre todos estes assuntos além de técnicas de conversão de imagens coloridas para P&B.

Carlos Alexandre Pereira

Fotógrafo e autor de artigos sobre fotografia e viagens, interessado por expedições fotográficas e explorações urbanas, com uma preferência por fotografia P&B que se reflete no seu portfólio quase monocromático. Informações sobre workshops de fotografia e expedições fotográficas em www.calexandrep.com.

Urban explorer and travel photographer. Online/digital writer and publisher. Authorial photography educator. Fine art photography printer. Former Project Manager Professional. http://www.calexandrep.com

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