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David Clapp é um fotógrafo britânico especializado em fotos de paisagens, que contribui regularmente para várias revistas especializadas em fotografia. Aqui no Brasil podemos conhecer um pouco do seu trabalho através da revista “Photographer Digital Brasil” que já re-editou algumas de suas matérias para a edição inglesa da revista, tais como “Explore Grandes Paisagens” na edição #8 e “Singapura” na edição #25. Em seu website (www.davidclapp.co.uk) é possível conhecer seu portólio, comprar impressões e conhecer os diversos workshops que ele oferece, individuais ou em grupos, na própria Inglaterra ou em vários países da Europa.
David Clapp “Singapura” – Digital Photographer Brasil, Ed 25.
Foi justamente a reportagem sobre grandes paisagens, de maio de 2011, que me fez pesquisar sobre o David na internet, achar o seu website e conhecer os workshops que ele oferece. No segundo semestre de 2012, quando estava planejando minha viagem para Europa em Dezembro e Janeiro, lembrei dos workshops oferecidos pelo David e me informei a respeito. No fim, acabei contratando o David para um workshop de 1 dia, em Newton Abbot, cidade onde ele mora, para eu e minha esposa, agendado para o dia 18 de Dezembro.
No dia 17 pegamos o trem em Redhill em direção ao sudoeste da Inglaterra e após 4hrs de viagem com uma conexão em Reading, chegamos a Newton Abbot. Saindo da estação em direção ao que parecia ser o centro da cidade, andamos na chuva por mais ou menos 1hr carregando 2 malas, mais as mochilas de equipamento, até acharmos um restaurante que nos agradasse. Após um almoço típico inglês em um típico pub inglês das cidades do interior, voltamos a chuva, dessa vez para procurar um taxi para o hotel.
O hotel foi uma indicação do próprio David, “The Old Church House Inn”, funciona em um prédio orginalmente construído no século 13 e ampliado ao longo dos anos. Mesmo após 8 séculos de ampliação, o hotel conta com apenas 16 quartos no total, cada um diferente do outro em construção e decoração. O hotel fica um pouco afastado do centro da cidade e ao lado de uma igreja antiga com fama de mal-assombrada. Minha esposa estava “adorando a idéia”, ainda mais que por ser inverno, chegamos ao hotel já “de noite”.
The Old Church House Inn, pousada (Inn em inglês) localizada em Newton Abbot no sudoeste da Inglaterra e que funciona em um prédio do século 13.
“Old Church”, antiga igreja localizada ao lado da pousada e que dá o nome a mesma, assim como a fama de mal-assombrada.
* As duas fotos acima foram tiradas no dia da nossa chegada ao hotel, à noite, com ISO 1600 e “iluminadas” posteriormente no Lightroom.
Após o jantar consegui trocar alguns emails com o David usando o Wi-fi que funcionava apenas na recepção, pois de modo algum o alcance de qualquer aparelho de Wi-Fi iria chegar aos quartos atravessando paredes de quase 50cm de espessura (prédio do século 13 realmente). Por email conseguimos combinar de nos encontrarmos para o café da manhã no hotel e depois passarmos o dia fora com ele para o workshop.
No dia seguinte, durante o café da manhã, após as apresentações, conversamos um pouco sobre a nossa experiência com fotografia e o que, eu e minha esposa, esperávamos do workshop. O David então sugeriu que passássemos o dia em Dartmoor, um parque nacional inglês gigantesco que ocupa grande parte do sudoeste da Inglaterra e onde Newton Abbot se localiza.
A formação rochosa da imagem acima foi nossa primeira parada e onde a aula começou na prática. Ficamos umas 2hrs nesse local, onde o David procurou explicar o processo pelo qual ele passa quando está fotografando, desde a escolha do local até o momento em que está capturando as imagens. Tudo começa com o objetivo inicial. Se o seu objetivo é fotografar paisagens, então você não deve ficar andando a esmo – ou mesmo com um roteiro definido – e tirando fotos de tudo o que chama a sua atenção e depois ficar torcendo para que alguma das imagens capturadas se torne uma boa foto de paisagem. Esse método funciona para fotógrafos de viagens, mas não para fotógrafos de paisagens.
Um fotógrafo de paisagens precisa capturar imagens realmente incríveis, diferenciadas, porque, nos dias de hoje, dificilmente ele irá capturar uma imagem original ou impressionante por si só. Pode acontecer, mas as chances são mínimas. O primeiro passo para capturar imagens incríveis, é visitar lugares incríveis. O segundo, é conhecer esse lugar, saber quais as oportunidades que esse lugar oferece, testar o maior número possível de aproximações e ângulos, procurar aquela combinação que irá tornar a sua imagem diferente de todas as outras que certamente já foram feitas deste lugar ou de lugares semelhantes. O terceiro passo é não ter pressa. Tenha certeza que a imagem que você fez é realmente aquela que você procura, se possível avalie a imagem em um notebook no próprio local caso a oportunidade de fotografar não irá ocorrer novamente, ou então, na melhor das hipóteses, avalie as imagens feitas na volta para casa ou hotel e volte ao local no dia seguinte caso ainda não tenha conseguido a imagem ideal.
Dartmoor é um lugar muito bonito, com várias áreas selvagens e muitas fazendas intercaladas. Existem também uma enorme quantidade de pequenos vilarejos e muitas vezes apenas 3 a 5 casas próximas. Ligando todos esses vilarejos, casas e fazendas, existe uma grande quantidade de estradas, na maior parte do tempo com largura suficiente apenas para um carro, o que torna o cruzamento de carros um exercício de paciência algumas vezes. Enquanto passeávamos por Dartmoor, cruzando essas estradinhas, passamos por alguns destes vilarejos e algumas destas casas em meio a várias fazendas e campos selvagens. Em alguns destes grupos de casas, nós paramos para tirar algumas fotos e conversar com mais calma. A imagem acima é de uma bifurcação entre duas estradinhas que se juntam para chegar a um dos vilarejos da região. Nessas bifurcações ou cruzamentos geralmente há um destes grupos de casas.
A idéia era ir para o workshop em Newton Abbot apenas eu e minha esposa, mas surgiu um imprevisto e precisamos levar junto nossa filha de 14 anos. O David foi bastante simpático para conversar com ela enquanto fazíamos algumas fotos, apesar do inglês ainda iniciante dela. Comentamos com o David que estava sendo fácil para nós acompanhar suas explicações em inglês e também que ele estava sendo bastante paciente e atencioso, não só com a gente, mas também com nossa filha. Ele respondeu que isso se dava ao fato de antes de ser fotógrafo profissional, ele também dava aula de música para crianças e por isso ele já tinha o costume de falar pausadamente e objetivamente para facilitar a comunicação e também a paciência necessária para lidar com crianças.
Não foram apenas em vilarejos e entroncamentos com casas que paramos. Em vários locais, quase sempre já conhecidos pelo David, nós encostamos o carro e ficamos algum tempo conversando tirando fotos, com o David mostrando a forma como ele trabalha, como ele procura a melhor imagem possível.
As duas imagens abaixo são de casas construídas com as técnicas antigas de construção desta região. As casas não são necessariamente muito antigas (pelos padrões ingleses, claro) mas foram construídas desta forma.
Segundo o David estas casas já foram o motivo de inúmeros cartões postais e calendários ao longo de muitos anos.
As imagens acima são de uma das inúmeras igrejas existentes pelo interior da Inglaterra. Todas elas de construção semelhante e mesmo sendo quase todas muito antigas, são de várias épocas diversas. Outra peculiaridade é que todas elas possuem um pequeno cemitério anexo, algumas com túmulos com mais de 200, 300 anos. Algumas delas, como era o caso dessa, ficam quase o tempo todo abertas, mesmo que não tenha ninguém presente, para que fiéis ou viajantes tenham um local para se abrigar no caso de necessidade.
Abaixo, a imagem de uma formação de pedras retangulares, dispostas em círculo, lembrando em uma escala muito menor a famosa formação de Stonehenge.
Esta ponte de pedra é outro local que segundo o David foi fotografado incontáveis vezes para cartões postais e calendários. O interessante aqui é o ângulo em que a ponte é fotografada, de um lado vemos apenas a ponte com uma área selvagem ao fundo e do lado oposto podemos ver a estrada cruzando o mesmo rio em uma ponte moderna, algumas casas, loja e restaurante. Este é um exemplo de que se procurarmos com calma e atenção, quase sempre poderemos encontrar uma imagem incrível mesmo nos locais mais saturados.
Neste momento já estava bem tarde e como era inverno, bastante escuro. Esse foi o último ponto em que paramos para conversar e fotografar antes de voltar ao hotel.
Minha esposa e minha filha na última foto do dia. Cansadas, famintas e com frio, depois de um dia de muita garoa e um frio que beirava a marca de zero graus.
De volta ao hotel, depois do jantar, foi a hora de continuarmos o workshop. Primeiro, usando o meu notebook, conversamos sobre algumas das imagens que capturei ao longo do dia. Se bem me lembro, apenas uma o David disse que “consideraria” usar no portfólio dele, e em várias outras ele explicou o porque das imagens não serem realmente incríveis como deveriam ser.
Depois, usando o seu notebook, o David mostrou algumas de suas fotos e como era o seu processo de trabalho e um pouco sobre técnicas de pós-produção de imagens. Ele mostrou algumas imagens prontas do seu portfólio e as imagens originais, as vezes várias imagens originais combinadas para formar uma única imagem final, realmente incrível.
Encerramos o workshop já mais de 11hrs da noite, após um dia inteiro passeando por Dartmoor e conversando muito sobre fotografia. Como disse ao David, ao final da nossa conversa, quando eu agendei o workshop, esperava algo mais técnico, mais específico, mas no fim do dia, percebi que as experiências pessoais que o David compartilhou conosco sobre sua carreira, suas decisões, seus planos, além, claro, de todos os ensinamentos que ele transmitiu sobre a sua forma de trabalho, foram muito mais importante e significativos do que meras instruções técnicas.
A impressão que ficamos é que David Clapp não é apenas um fotógrafo talentoso, mas também um ótimo instrutor e uma pessoa agradabilíssima de conversar e interagir. Ele comentou que gostaria de vir a América do Sul em busca de novos locais para fotografar, ele mencionou especificamente Chile e Bolívia. Enquanto concordei que a Cordilheira dos Andes e as selvas e montanhas Bolivianas são incríveis, fiz também uma promessa de enviar a ele locais tão ou mais incríveis de se fotografar no Brasil. Tenho certeza que nos encontraremos novamente, dessa vez para fazermos algumas incríveis aqui no Brasil.
Para finalizar, duas fotos que minha filha fez do David, eu e minha esposa, mais a edição 25 da ‘Digital Photographer Brasil’, com sua matéria sobre Singapura e que deixamos com ele de lembrança.